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Uma carta de amor à Wikipedia

Querida Wikipedia,

Que orgulho te ver crescer. Quem te vê hoje tão presente na nossa cultura, consultada e referenciada por muitos, mal imagina que no seu começo você foi desacreditada, tendo seu ambicioso projeto de formalizar a informação do mundo somente com voluntários reduzido a um projeto utópico de nerds.

Não culpo os críticos da novidade, apenas observo a ironia das coisas. Realmente na Internet é difícil saber o que ganha massa crítica ou não — principalmente em projetos colaborativos. Há uma série de fatores envolvidos e não há fórmula pronta. Mas agora, mesmo contando com doações para se manter financeiramente e com neutralidade, eu acredito em uma vida longa e próspera para você.

A cada acesso em suas páginas, tenho uma boa sensação. É como entrar naquelas enormes bibliotecas com conhecimento a perder de vista, mas não preciso entrar em pânico de não encontrar o que procuro, basta selecionar ou buscar um ponto de partida e navegar nas páginas relacionadas de acordo com a necessidade. À medida que o tempo e a curiosidade vão permitindo, posso percorrer os links internos e descobrir relações entre seus tópicos que até então desconhecia. E é confortante saber que caso eu tenha mais conhecimento naquele tópico do que está escrito, posso e sou convidado a editar o artigo contribuindo com o meu conhecimento.

Isto é o que me encanta. Quando paro pra pensar que todo esse seu conteúdo não é de nenhum autor específico. É de todo mundo, para todo o mundo. O seu conteúdo é um organismo vivo, complementado pelas experiências e conhecimento compartilhado por meros cidadães como eu ou meu vizinho. Todos que criaram ou editaram uma de suas páginas em algum momento se sentiram especialistas no assunto que escrevem, e dignos de compartilhar o seu conhecimento.

É compreensível que, algumas vezes, as coisas podem fugir do previsto, e influências políticas, religiosas ou até mesmo o ego — afinal, somos humanos – podem motivar edições que fogem da neutralidade proposta por você. E aí que a sua comunidade ativa nos surpreende mais uma vez com a rapidez com que os vandalismos são corrigidos. Quem dera no mundo físico fosse tão simples reparar esses atos.

Agora, sua presença é tão natural, que vai ser difícil explicar para os meus futuros filhos o que era uma enciclopédia impressa, e para que serviam tantos tomos se nenhum hyperlink ajudava a conectar o conhecimento. Que pretensioso mesmo era imaginar que todo o conhecimento relevante do mundo fosse selecionado por alguns profissionais de uma empresa e só seria atualizado após um período de anos, e não em minutos, como é hoje.

É claro que com o computador e a Internet cada vez mais presentes, as próprias editoras de enciclopédias tentariam enveredar para o meio digital, seja em CD-ROM ou até mesmo um site. Mas o modelo de negócio por compra anual ou assinatura do acesso site se manteria. E o seu espírito liberal e colaborativo prevaleceu sobre a tradição de grandes nomes no setor. Algumas outras grandes empresas da internet já tentaram ocupar o seu lugar de acervo do conhecimento humano, mesmo com a gratuidade e contribuição de especialistas contratados, mas a sua comunidade é muito mais forte.

Wikipedia, por mais que eu escreva nunca conseguirei traduzir por completo o sentimento de gratidão pela sua existência e da comunidade que conseguiu criar. As comunidades, na verdade, pois sua versão em cada idioma consegue ter uma identidade e engajamento próprios.

Manda uma abraço para os seus projetos irmãos, o Wikicionário, os Wikilivros e até o Wikinews. Eles não costumam receber muita atenção do público geral, mas estou na torcida para que eles ganhem uma comunidade tão engajada como a que você conquistou.

Com amor e esperança,

Edison Morais

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